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Cidades médias que impressionam mais do que as capitais

A divulgação dos primeiros dados do Censo 2022 surpreendeu muitas pessoas, já que revelou que a população do Brasil atualmente é de aproximadamente 203 milhões de habitantes, um número abaixo da expectativa inicial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que previa 215 milhões. Além disso, chamou atenção o crescimento significativo das cidades médias (com população entre 100 mil e 499 mil habitantes), as quais receberam um acréscimo de 8,3 milhões de habitantes. Essas cidades foram responsáveis por mais de dois terços do aumento populacional desde o último Censo, realizado em 2010.

Entretanto, é importante analisar esses dados com cautela. O Censo de 2022 foi realizado rompendo a periodicidade tradicional de dez em dez anos, e ocorreu em meio à pandemia. Durante esse período, muitas pessoas optaram por deixar as grandes cidades, buscando ambientes menos densamente povoados, e o aumento do trabalho remoto levou a um deslocamento de muitas pessoas para regiões turísticas e litorâneas. Ainda é incerto se essas tendências se manterão nos próximos anos, portanto, o Censo fornece um retrato pontual das mudanças ocorridas entre 2010 e 2022, mas oferece poucas informações sobre as oscilações populacionais ao longo desse período.

Esse cenário ressalta a importância de uma análise mais aprofundada das tendências demográficas, levando em conta os eventos extraordinários que ocorreram durante a realização do Censo, para uma melhor compreensão do quadro populacional do país.

O panorama nas grandes metrópoles

O Censo de 2022 revelou padrões interessantes nas Regiões Metropolitanas. Através do mapa interativo produzido pelo G1, podemos observar quais municípios ganharam ou perderam população ao longo do período analisado.

Algumas capitais, como São Paulo e Curitiba, apresentaram um crescimento moderado, variando de 1% a 2%, ao longo dos últimos doze anos. A população dessas capitais parece estar se estabilizando, enquanto os municípios ao redor experimentaram um crescimento notável. Cotia (36,04%), Barueri (31,45%), Osasco (11,5%) e Santo André (10,72%), por exemplo, tiveram um aumento populacional significativo nos arredores de São Paulo. Da mesma forma, São José dos Pinhais (24,61%), Araucária (27,32%) e Fazenda Rio Grande (82,27%) seguiram essa tendência de crescimento nas proximidades de Curitiba.

Por outro lado, alguns municípios como Belo Horizonte (-2,53%), Fortaleza (-1,26%) e Natal (-6,52%) registraram uma diminuição em suas populações, enquanto suas respectivas Regiões Metropolitanas continuaram a crescer. Nesse contexto, destaca-se o crescimento de municípios como Nova Lima-MG (37,9%), Caucaia-CE (11,28%) e Parnamirim-RN (24,83%). Essas RMs, assim como as de São Paulo e Curitiba, mostram que os centros urbanos principais estão perdendo um pouco de atratividade, ao mesmo tempo em que a região como um todo continua crescendo.

Essa migração para o entorno pode estar sendo impulsionada por vários fatores, incluindo o alto custo de moradia nos municípios centrais, a adoção do trabalho remoto e a percepção de que a violência urbana e a qualidade de vida nas grandes metrópoles estão deteriorando. Essas dinâmicas demográficas indicam mudanças significativas no cenário urbano e podem ter implicações importantes no planejamento urbano e na qualidade de vida das regiões metropolitanas.

Manaus, Amazonas. A cidade ganhou mais de 260 mil habitantes nos últimos doze anos, registrando o maior crescimento populacional entre todos os municípios brasileiros. Imagem: Portal da Copa

Em outras capitais, como Porto Alegre (-5,45%) e Rio de Janeiro (-1,72%), tanto os municípios centrais quanto a Região Metropolitana (RM) estão experimentando um declínio preocupante na população. No entanto, uma exceção notável no caso do Rio é Maricá (54,87%), que apresentou um crescimento significativo, enquanto os demais municípios da RM estagnaram ou perderam população.

Na região Sul, observa-se um crescimento em municípios da Serra Gaúcha, como Bento Gonçalves (17,67%) e Caxias do Sul (6,38%), sugerindo uma possível migração da população de Porto Alegre para essa área. Essa tendência de migração também pode estar contribuindo para o crescimento de Florianópolis (27,53%), cuja RM inclui os municípios de Palhoça (62,09%) e São José (28,83%).

Por outro lado, há capitais que estão crescendo de forma conjunta com suas RMs. Essa tendência é observada nas capitais do Centro-Oeste (Brasília, 9,52%, Goiânia, 10,39%, Cuiabá, 17,66% e Campo Grande, 14,13%) e em algumas cidades do Nordeste, como Teresina (6,39%) e João Pessoa (15,26%). O crescimento dessas cidades reflete sua capacidade de atrair migrantes de outras regiões.

É importante acompanhar essas dinâmicas demográficas para entender melhor os fatores que influenciam o crescimento ou declínio populacional em diferentes áreas do país. Essas mudanças podem impactar a distribuição de recursos e infraestrutura, além de fornecer insights valiosos para o planejamento urbano e políticas públicas adequadas às necessidades das comunidades em evolução.

Vista aérea de Rondonópolis, Mato Grosso. As cidades médias localizadas na fronteira de produção agrícola registraram crescimento expressivo no Censo 2022. Imagem: Wheverton Barros – Gcom

O crescimento das cidades médias

De acordo com o Censo 2022, o agronegócio tem desempenhado um papel fundamental no impulsionamento do crescimento das cidades médias. No estado do Mato Grosso, observa-se um contínuo aumento populacional em Rondonópolis (25,21%), enquanto Sorriso (66,30%) e Sinop (73,36%) se destacam como as cidades com maior crescimento no Brasil. É notável acompanhar a expansão da fronteira agrícola do Centro-Oeste em direção ao Norte, refletindo-se no crescimento das capitais Rio Branco (8,55%) e Porto Velho (7,44%).

Outra região importante é o Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde a produção agrícola tem possibilitado a abertura de novas fronteiras no interior desses estados. Nesse contexto, é relevante destacar o crescimento de cidades como Barreiras, na Bahia (16,24%), Luís Eduardo Magalhães, também na Bahia (79,50%), Palmas, em Tocantins (32,57%), Balsas, no Maranhão (21,66%), e Imperatriz, também no Maranhão (10,35%). Além disso, em Goiás, os centros regionais de Formosa (15,57%) e Rio Verde (27,93%) também têm experimentado um aumento significativo na sua população.

Uberlândia, MG. Imagem: Prefeitura de Uberlândia

De acordo com o Censo 2022, foi constatado que algumas cidades médias desempenham um papel fundamental como centros regionais, especialmente por estarem afastadas das capitais. O crescimento notável desses municípios tem um impacto significativo no desenvolvimento das cidades ao seu redor. Esse fenômeno tem sido observado em localidades como Uberlândia, que apresentou um crescimento de 18,08%, Joinville com 19,61% e na região Londrina-Maringá, com taxas de crescimento de 9,77% e 15,26%, respectivamente.

Essas cidades estão atualmente próximas ou já ultrapassaram a marca de 500 mil habitantes, abrigando uma diversidade de comércio e serviços que se assemelham aos das capitais. Esse crescimento impulsiona o desenvolvimento regional e atrai investimentos, tornando-as polos importantes para suas respectivas áreas geográficas. O Censo de 2022 destaca o papel crescente dessas cidades médias na construção de uma infraestrutura econômica robusta e no aprimoramento da qualidade de vida dos seus habitantes.

Vista aérea de Rondonópolis, Mato Grosso. As cidades médias localizadas na fronteira de produção agrícola registraram crescimento expressivo no Censo 2022. Imagem: Wheverton Barros – Gcom

A competição pelos jovens

A lição do Censo 2022 revela que o Brasil está caminhando em direção à estabilização de sua população. A taxa de crescimento anual, registrada em 0,52% pelo IBGE, é a menor já registrada. Isso significa que o país enfrentará um cenário com uma proporção maior de idosos em relação à força de trabalho, que será menor. Desde a divulgação desses resultados, têm surgido vários alertas sobre o desafio de manter o crescimento econômico em um país que está envelhecendo rapidamente e que tem tido dificuldades em distribuir sua riqueza de forma mais equitativa.

Além disso, um aspecto menos evidente é o cenário competitivo que se forma. A capacidade de atrair migrantes, principalmente jovens, tornou-se vital para que as cidades possam evitar o declínio e promover o desenvolvimento sustentável. Nesse contexto demográfico, a capacidade de atrair novos talentos e investimentos ganha ainda mais relevância para garantir o progresso e a prosperidade das regiões do país.

Sorocaba, SP. Imagem: Prefeitura de Sorocaba

As grandes capitais enfrentam desvantagens significativas, uma vez que possuem vastas áreas urbanizadas e uma extensa rede de infraestrutura que demanda investimentos para sua manutenção. O modelo de crescimento urbano espalhado, marcado por assentamentos informais e favelas, é um problema adicional que exigirá altos custos para ser resolvido. A diminuição da população também acarreta a redução na arrecadação tributária, tornando ainda mais difícil o equilíbrio financeiro dessas cidades.

Por outro lado, as cidades médias encontram-se com oportunidades em abundância. Esses municípios têm a possibilidade de expandir sua malha urbana de forma planejada, utilizando grelhas viárias que antecipem a distribuição das ruas, reservando espaços adequados para o lazer e a infraestrutura urbana. Além disso, podem implementar regulamentações de uso do solo que promovam bairros densos, de uso misto e com um ambiente propício para o deslocamento a pé, diminuindo o potencial de crescimento desordenado.

Nessa disputa, as capitais têm razões válidas para se preocupar.

Via
Mídiaplay Comunicações
Fonte
Caos Planejado

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