Há pessoas que buscam uma casa no campo para se isolarem, mas existem aqueles que o fazem em busca de conexões. Nicole Tomazi e Sergio Cabral se encaixam na segunda categoria. Após se encontrarem quatro anos atrás, iniciaram um relacionamento amoroso que rapidamente evoluiu para uma parceria criativa, formando a equipe conhecida como TomaziCabral. Antes, eram residentes convictos em São Paulo (ele por nascimento e ela por escolha), mas decidiram mudar para o interior do Rio Grande do Sul em busca de novas uniões. Uma delas foi com a fábrica de vidros responsável por produzir parte de suas obras, localizada em Gramado. A outra, e mais significativa, estava relacionada às raízes de Nicole, levando-os inevitavelmente para a zona rural de Veranópolis, cidade onde ela nasceu.
Com uma intenção clara, eles listaram os requisitos para a futura propriedade: “Uma casa de madeira, uma florestinha, um rio…” e embarcaram em uma busca. Encontraram um sítio que estava quase vendido para um comprador que planejava demolir a construção quase centenária para erguer uma casa moderna. Sentindo-se aflitos com o destino iminente, Nicole e Sergio fizeram uma oferta melhor e conseguiram adquirir a casinha de araucária sobre base de pedras, com dois volumes totalizando 200 m². Para eles, a casa era como uma entidade viva, e em vez de reformá-la imediatamente, decidiram se envolver em um diálogo com ela, buscando entender suas necessidades antes de tomar qualquer medida. Eles apenas melhoraram a qualidade de vida, que era precária na época de seus construtores originais, adicionando um chuveiro a gás e uma salamandra, mas preservaram a maioria das características originais da casa.
A escolha pela preservação foi deliberada, apesar de surpreender as pessoas da região, pois essas casas antigas evocam um passado doloroso. Nicole e Sergio têm a esperança de que sua presença na casa e sua postura consciente ajudem a comunidade local a enxergar o passado de forma diferente. Nicole, como pesquisadora de patrimônio e cultura, vê isso como uma responsabilidade cultural de apresentar essa possibilidade de vida para os locais e quebrar os padrões pré-estabelecidos de construção.
O casal tem como objetivo viver três vezes mais tempo na Serra Gaúcha do que na cidade de São Paulo. Embora as conexões proporcionadas pela cidade sejam vitais para o trabalho deles, é no campo que eles sentem seu trabalho amadurecer, especialmente porque o fazer manual está diretamente ligado à sobrevivência nesse ambiente. A autonomia exigida na vida no campo, desde fazer a comida até cultivar a horta, dá-lhes uma liberdade criativa e os prepara para enfrentar a vida na cidade com a sua arte.
Viver no campo também traz uma sincronia com a natureza, pois eles acordam cedo junto com os pássaros, esquilos e borboletas, e seus dias são preenchidos com inúmeras tarefas tanto relacionadas à vida campestre quanto à vida artística. Ao cair da noite, eles se recolhem, sabendo que viveram integralmente cada momento do dia. Essa escolha de vida é como um encontro constante com o prazer de experimentar a vida que escolheram para si.
Dessa forma, Nicole Tomazi e Sergio Cabral encontraram no campo um espaço para criar e viver em sintonia com a natureza, ao mesmo tempo que preservam e valorizam as casas históricas e a cultura local de Veranópolis.